“Mulher Negra: a dor, a força e a solidão” por Jéssica Marcondes

O Puri
2 min readSep 18, 2017

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(ANO 03 — NUM 01)

A solidão dá mulher negra é real e cada vez mais presente.

Vemos, desde crianças, mães, avós, tias, conhecidas criando seus filhos sem nenhum auxílio e suporte paternal.

Já cheguei a pensar que isso era independência, força, mas na verdade era abandono.

A imagem da negra forte que se vira em 24h para trabalhar fora e dentro de casa, cuidar dos filhos (seus e dos ou­tros) e que aos finais de semana ainda procura bicos que ajudam no orçamen­to mensal era a coisa mais comum de se ver há 10 anos atrás. Mas essa realidade é bem mais antiga do que se imagina.

Quando se cresce uma jovem ne­gra em uma sociedade preconceituosa, percebe-se que os desafios a serem en­frentados vão além de ter um bom estu­do, um bom serviço e entrar numa boa faculdade.

Na juventude conhecemos o amor e a troca pelo proposto, pelo padrão acei­tado socialmente.

Até tomarmos consciência de que nosso corpo, nossa beleza como negra vale muito mais do que os cartazes e desfiles que os exibem de forma pejo­rativa, passam-se dias, meses, anos de ódio por ser quem somos. Ou seja, ser negra.

A negação da cor que não se pode tirar, do cabelo que gosta de se emara­nhar, do nariz que não afina e dos lábios que são mais grossos que palavras rudes entristece e a aceitação é quase utópica, porém, quando acontece, é vitória.

Bravo!

Amo minha cor, minha raiz, meus traços.

Sou grata pelas costelas que se rom­peram na hora do meu parto.

Força e dedicação. Sou inteira.

A força tomou lugar da dor, mas a solidão continuou.

Mesmo sendo linda, tem gente que diminui por peito e bunda, usa, abusa e some na neblina.

Encontrar um amor verdadeiro é como procurar agulha do palheiro, e, até mesmo quando encontramos, so­mos deixadas ao relento, depois de me­ses ou anos, ouvindo um discurso de “Eu preciso de um tempo”. Sabemos que seu tempo era a garota branca presente na sua vida desde sua infância.

A decepção é amiga íntima, entra em casa sem bater, abre a geladeira e põe o pé no sofá.

Você finge não se abater. Você é forte ou se faz de forte só pra não perceberem a sua dor, a sua solidão.

Se garotas amadurecem cedo, as ne­gras aceleram o processo.

Levantar e seguir é trabalho diário. Se valorizar e se amar é passo a passo.

Seguimos sozinhas, mas buscando em cada irmã a companhia.

Seremos exemplo para as próximas crias que nos olharão e irão dizer “é for­te a minha tia”.

Imagem ao lado: Artista desconhecido, Baiana, 1850. Óleo sobre algodão, 77.5 X96cm

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